“Quando as expectativas criadas em sonhos não são alcançadas. Quando a felicidade não chega e quando as coisas que se ama começam a se perder, é mais fácil se entregar. É mais fácil desistir. É mais fácil deixar-se mergulhar e fechar os olhos, abandonar tudo e se abraçar com os sonhos não realizados. Guardar o que restou. Criar um mundo nas lembranças que faziam sonhar e não os deixavam afundar e mergulhar com suas correntes quebradas.”
Aquele que mergulha em águas profundas está fadado a ficar prezo em um casulo autodestrutivo. Aquele que fecha seus olhos está fadado a desistir de tudo e se entregar para o silêncio, e aquele que adentra no fundo de sua própria alma e se entrega para a sua escuridão não consegue mais olhar para frente.
O mesmo mundo que é cheio de luz, alegria e felicidade também possui seus momentos de noites e tristezas, e elas tentam te esmagar. Algumas noites são tão escuras e permanecem por tanto tempo que conseguem apagar o brilho de algumas pessoas. Elas desistem de tudo para não encontrarem mais nada que as machuquem, elas fecham seus olhos para não olharem para um lugar onde não podem chegar, elas se entregam para um mar escuro e profundo para conseguirem olhar para o que foi perdido e que nunca mais retornará e se entregam para os sonhos não realizados e tudo que não foi alcançado. São águas negras que ferem o corpo de dentro para fora e te convidam para o nada.
Todos possuem dentro de si seus mares negros. Os sonhos e esperanças são como correntes que não permitem que afundem. Aqueles que mergulham começam a perder sua visão de futuro, se desapegam do que possuem e se entregam para a solidão e o silêncio. Quanto mais fundo mergulham, mais o corpo e a alma sofrem. Em compensação conseguirão proteger com mais intensidade o que possuem dentro de si, mesmo que apenas lhes causem dor, e não se importarão com o que está do lado de fora, pois estarão anestesiados. O resultado final daqueles que encontram o fundo do mar é o desligamento total, é poder finalmente viver só para si e nunca mais perder nada.
Existem mundos interiores que são como paraísos criados dentro de cada pessoa que vive neste mundo e alguns desses mundos não correspondem com o mundo externo. E quando se perde esse paraíso, quando o que é tido como realidade começa a mudar pouco a pouco esse mundo interior, não é mais possível manter seu próprio santuário dos sonhos. Quando essas pessoas começam a perder seu mundo interno, elas mergulham dentro de suas águas para que o que sobrou não seja arrancado pela realidade e para “resgatar” o que se foi. Essas pessoas mergulham em águas profundas e se agarram nos poucos sonhos que restaram, em um fio de esperança.
É nesse momento que surgem as vozes que antes estavam ocultas nas profundezas de cada um, e elas dizem que a felicidade não existe e que todas as lutas serão em vão. Elas querem que todos fechem seus olhos e desistam de tudo. Que larguem as correntes que ainda as prendem. Querem que descansem, e muitos estão cansados e fartos depois de perderem seus sonhos, depois de perderem pra sempre a chance de realizá-los.
Quando as expectativas criadas em sonhos não são alcançadas. Quando a felicidade não chega e quando as coisas que se ama começam a se perder, é mais fácil se entregar. É mais fácil desistir. É mais fácil deixar-se mergulhar e fechar os olhos, abandonar tudo e se abraçar com os sonhos não realizados. Guardar o que restou. Criar um mundo nas lembranças que as faziam sonhar e não os deixavam afundar e mergulhar em um lugar negro com suas correntes quebradas.
Existem coisas na vida que nunca devem ser perdidas, pois quando se vão, levam uma parte de quem fica e a modifica para sempre, deixando outra pessoa no lugar, deixando alguém que não é mais alguém. Para essas pessoas, os dias claros se tornam noites escuras. O calor da expectativa se torna um frio congelante e insuportável. As flores de seu jardim perdem suas vidas e seu céu azul e lindo desaparece em uma neblina cinza e densa.
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